Produtores cearenses de frutas exportadas para os Estados Unidos calculam os efeitos da sobretaxa de 50% anunciada por Trump e tentam pensar nos próximos passos. Na mangicultura, empresários preveem uma pausa em novos investimentos e avaliam que redirecionar a produção para a Europa “seria problemático”.
Com o aumento da oferta de manga no mercado europeu, caso haja o redirecionamento das exportações que iriam para os Estados Unidos, os preços tenderiam a cair, o que poderia levar à redução da área cultivada.
A avaliação é de um produtor cearense, que preferiu não se identificar na matéria. “Saturar o mercado europeu também é ruim para nós. Se isso acontece, a tendência é queda de preços. Não é só a manga que vai sofrer. Isso vai afetar a nossa safra”, disse.
Além disso, os Estados Unidos são fortes consumidores das variedades Tommy e Palmer, enquanto a Europa consome, sobretudo, as mangas Kent e Keitt.
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Pausa em ampliação da área cultivada
Esse mesmo produtor se preparava para pelo menos triplicar a área de cultivo de manga no Estado. Hoje, essa área é de 180 hectares e a produção exportada é de 10 mil toneladas, das quais 30% são destinadas aos Estados Unidos.
Os embarques são comumente realizados no Porto do Pecém a partir do fim de agosto, aproveitando o início da entressafra da manga no México, grande responsável pelo abastecimento do fruto no mercado norte-americano.
“No fim de agosto, começariam nossos embarques e o Brasil desfruta de uma janela em que, por um período de 10 a 12 semanas, esse mercado é nosso”, detalha ele.
Apesar de não considerar a operação no Ceará tão grande (a empresa produz em outros estados do Nordeste e também trabalha com o cultivo de uvas no Vale do São Francisco), ele revela que os investimentos previstos ampliariam a atuação localmente.
“A empresa gostaria muito de fazer os devidos investimentos para crescer essa operação no Ceará. Sem medo de errar, posso dizer que a gente ia triplicar ou quadruplicar esse número de área cultivada e pessoas contratadas, mas um contexto econômico desse tipo afeta esses planos”.
“Nós não decidimos nada ainda. Ainda estamos mensurando a consequência do tarifaço. Não tomamos decisão de paralisar os investimentos, mas podemos colocar em pausa”, afirma a fonte. Hoje, o produtor emprega, diretamente, 200 pessoas.
Tentativa de reversão e apoio de importadores
Ele também afirma que continua empenhado em esforços, por meio dos importadores norte-americanos, para que sejam concedidas isenções ao setor.
Segundo o produto, há uma busca de ganhar força a partir desses parceiros comerciais, pedindo que iniciem um movimento interno, já que o cenário político atual não favorece um acordo direto com o governo dos Estados Unidos.
O produtor de manga e sócio-proprietário da AGM Crops, Altamir Martins, corrobora que a situação deve gerar uma série de outros problemas. Ele reforça que, entre agosto e outubro, o Brasil é o único fornecedor de manga para os Estados Unidos.
Segundo ele, trata-se de uma janela cativa de 10 a 12 semanas, pois, nesse período, a safra do México está finalizando, enquanto a do Equador e do Peru ainda não começou.
Ele acrescenta que, além disso, o sul da Espanha também produz manga nessa época. Nenhum dos outros mercados consegue absorver o volume de mercadoria produzido pelo Brasil, nem mesmo o mercado interno. Martins alerta que os preços podem cair a níveis que não cobrem os custos de produção, o que afetará todo o setor.
Atualmente, o cultivo de manga no Ceará ocorre principalmente na região do Acaraú e em cidades como Beberibe, Quixeré e Mauriti. Segundo Martins, o eixo Petrolina–Juazeiro concentra 90% da produção nacional de manga.
Para ele, o que cabe ao setor agora é pressionar as autoridades para que tenham cautela com a manga, uma vez que ela não é produzida nos Estados Unidos.