Pssica é, sem dúvidas, uma das produções mais importantes de 2025 da Netflix. Toda a trama, as temáticas levantadas na série, tudo parece ter sido pensado de maneira artística, provocadora e reflexiva, tendo a Amazônia como pano de fundo para tratar de violência, tráfico humano e exploração sexual de menores de maneira impactante.
Maratonei de primeira logo que estreou e fiquei muito feliz ao ver atores do Ceará, como Lucas Galvino, David Santos, Ana Luiza Rios e Fátima Macedo no elenco, sem contar com Claudio Jaborandy, que é um recifense já conhecido do público, mas que também é da nossa terra. Os cinco estão brilhando em seus papeis e não, eu não acho um absurdo ver nordestinos interpretando personagens nortistas.
Quando comecei minha carreira no final dos anos 90, a presença de atores e atrizes cearenses na teledramaturgia brasileira era muito rara. Quando acontecia, a cota era preenchida com personagens bem secundários, um porteiro, uma empregada, um figurante. Claro que alguns nomes se destacaram, como José Wilker, Emiliano Queiroz e Luiza Tomé, mas a regra era outra.
A presença predominante nos elencos eram de artistas do Sudeste, independente da história a ser contada. Se era no sertão nordestino ou no meio da Floresta Amazônica, lá estavam eles, os mesmos atores de sempre, sobretudo paulistas e cariocas. Contudo, esse cenário vem mudando e muito por resultado das mudanças da sociedade e pela luta de parte da classe artística que reivindica seus lugares no cinema, no streaming e na televisão.
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É importante que a presença regionalista das produções ganhe uma diversidade e uma representatividade tamanha ao ponto de que não precisemos mais entrar na briga de sotaques.
Eu não sou contra ninguém interpretar ninguém, seja de que região for, mas é preciso, sim, quebrar o modus operandi do mercado audiovisual, onde na grande maioria das vezes, pessoas de outras regiões do país não são sequer cogitadas para obras que se passam em seus territórios.
Eu quero mais é ver nordestinos interpretando nortistas, como quero nortistas interpretando nordestinos, como quero mais nordestinos e nortistas interpretando personagens do Sul-Sudeste, pelo simples fato de que temos capacidade para isso. Assim como quero mais histórias fora do eixo Rio-São Paulo sendo contadas, como Pssica traz de forma incrível uma Amazônia urbana.
O Brasil profundo dá muito caldo, é preciso querer olhar para ele.
A forte presença de Lucas, David, Ana Luiza e Fátima nessa produção fortalece a minha crença de que as transformações estão acontecendo. Esses nomes representam caminhos abertos e expectativas de que, sim, podemos alcançar bons trabalhos e reconhecimento profissional. É um orgulho que nos engrandece. Se tem uma coisa que me deixa feliz é ver nordestino e, especialmente, cearense ocupando lugares que um dia disseram que não eram para nós.
*O texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor