No Brasil, o que vale é ser campeão. Há no país a cultura de desvalorização do vice. Assim no futebol e nos outros esportes. Na política, só passaram a dar importância ao vice, quando o presidente Jânio renunciou (1961) e Tancredo Neves morreu (1985). Aí viram que é era preciso ter cuidado na escolha do vice.
O Brasil foi vice-campeão mundial em 1950. Até hoje esse fato é tido como uma maldição. Os jogadores foram execrados. O goleiro Barbosa jamais foi perdoado pela suposta falha no gol que deu o título ao Uruguai em 1950 no Maracanã. Foi mesmo que nada ser vice-campeão do mundo.
O futebol cearense tem dois títulos de vice-campeão brasileiro com o Fortaleza na época da Taça Brasil (1960 e 1968) e da Sul-Americana (2023). E o Ceará tem um título de vice-campeão da Copa do Brasil em 1994. Foram as nossas maiores conquistas. Mas ainda hoje há uma certa frustração pelas derrotas acontecidas.
Eu considero importantes e significativas as conquistas do Fortaleza e do Ceará, com as belas campanhas nos vice-campeonatos citados. Mas, lamentavelmente, não é assim que pensa a maioria da torcida brasileira.
Outro vice
O Brasil foi vice-campeão mundial em 1998 na Copa da França. Ninguém toca no assunto. É como se não tivesse chegado à decisão. Tal campanha dificilmente é citada. E, se eventualmente citada for, é mais pelo episódio da convulsão do Ronaldo Fenômeno do que pelo vice conquistado.
Sem homenagem
Certa vez me perguntaram se eu conhecia alguma rua, viela ou praça com o nome de um vice em alguma coisa. Realmente não conheço. Pode até existir, mas não sei dizer. Tem Estádio Presidente Vargas, Avenida Presidente Kennedy, Estádio Governador Plácido Castelo, Autódromo Virgílio Távora… E o vice?
Valorização
É preciso valorizar o vice. Olhar a campanha e a luta de quem chega a uma decisão mundial ou olímpica. O ouro tem seu significado. É o que todo mundo quer. Lógico. Mas a prata também tem significado importante. Há um olhar de desdém para a prata. É preciso mudar isso.
Cearenses brilhantes
No vôlei de praia, o cearense Márcio Araújo foi prata na Olimpíada de Pequim, em 2008. Um feito notável. Também no vôlei de praia a cearense Shelda Bedê foi prata na Olimpíada de Sidney em 2000 e prata na Olimpíada de Atenas em 2004. Notável Shelda. Que feito lindo! Mas muita gente acha que o que vale é o ouro.
Conclusão
O ouro é o objetivo maior. O título de campeão é o que todo mundo quer. Márcio queria. Shelda também queria. O Fortaleza, em 1960 e 1968, queria, como também em 2023. O Ceará em 1994 queria. A luta será sempre pelo título de campeão. Claro. Mas, se não vier, vamos aplaudir os vice-campeões. Ser vice-campeão tem valor, sim.