Será que é mesmo assim? Já ouvi essa frase mais vezes do que consigo contar, e talvez você também já tenha sentido o mesmo. É aquele momento em que percebemos que, dentro da empresa, o reconhecimento parece reservado a quem chega de fora, como se o olhar da liderança se encantasse pelo novo e esquecesse de enxergar quem sempre esteve ali, sustentando o dia a dia, entregando resultados e mantendo a engrenagem funcionando.
Mas a responsabilidade é somente da liderança? É fato que há uma idealização recorrente do que vem de fora. O novo costuma parecer mais interessante, mais preparado, mais inovador. Porém, muitas vezes, são os profissionais que já estão dentro que carregam o conhecimento silencioso sobre a história, a cultura e os bastidores que mantêm a empresa de pé.
Quando esse valor não é reconhecido, instala-se um sentimento de injustiça, seguido de desânimo, perda de pertencimento e o desejo de buscar em outro lugar o que não se encontra em casa.
Por outro lado, em processos de mentoria com líderes, ouço com frequência o que diz a face oposta da moeda: a frustração com colaboradores que parecem ter perdido o brilho da ambição, a disposição de se reinventar ou de buscar novos desafios.
Esse comportamento, segundo eles, acaba dificultando a promoção interna e reforçando a tendência das empresas de recorrer ao mercado em busca de alternativas externas.
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Quem tem razão? Ambos! E é justamente por isso que a reflexão é essencial. Quando a liderança, em meio à pressa por resultados e à busca por renovação, esquece de olhar para dentro, de reconhecer quem já contribui há anos, fragiliza a meritocracia e cria um clima de desesperança. Os colaboradores deixam de contar com a possibilidade de serem reconhecidos, o que afeta engajamento, produtividade e até resultados financeiros.
Quando o profissional foca apenas no emprego e não na carreira, deixa de comunicar suas entregas, de mostrar resultados consistentes, de buscar feedbacks e ir além do básico. Dessa forma, seu valor não apenas se torna invisível, como também perde competitividade frente às demandas da organização e do mercado. E, muitas vezes, é mais fácil culpar a estrutura organizacional do que reconhecer as próprias falhas.
Reflexões essenciais para profissionais
Antes de acusar a empresa de privilegiar talentos externos, é fundamental olhar para si mesmo: você tem demonstrado interesse genuíno em aprender e se reinventar ou apenas repete o que sempre fez? Comunica de forma clara seus resultados e aspirações ou espera ser reconhecido em silêncio?
Assume protagonismo nas oportunidades que surgem ou se acomoda quando elas não aparecem? Se você respondeu ‘não’ para uma ou mais perguntas, segue um checklist prático para reverter essa situação e conquistar o espaço que almeja dentro da organização:
1. Identifique três habilidades que você aprendeu ou aprimorou no último ano.
2. Liste duas oportunidades internas que você poderia buscar.
3. Planeje uma ação concreta para aumentar sua visibilidade esta semana, como compartilhar um resultado importante com seu líder.
Profissionais que assumem a responsabilidade por sua própria evolução constroem carreiras mais sólidas e aumentam suas chances de reconhecimento interno.
Por exemplo, já vi colaboradores que sugeriram melhorias em processos internos, mesmo sem retorno imediato, e foram reconhecidos publicamente em reuniões trimestrais, mostrando que a persistência e a comunicação de resultados fazem diferença.
Reflexões essenciais para líderes
O exercício da liderança exige atenção para não se deslumbrar com o novo: é preciso refletir se você dedica tempo para observar e desenvolver os talentos internos, se suas decisões de promoção são baseadas em evidências e desempenho e se cria um ambiente seguro para que as pessoas se mostrem, cresçam e contribuam.
Abaixo trago três ações que podem apoiar o líder nas tomadas de decisão e consequentemente na criação de um ambiente mais justo e empático:
1. Revise as últimas promoções: quantas foram internas versus externas?
2. Liste talentos que não recebem feedback regularmente e crie uma agenda intencional de reuniões um a um.
3. Planeje uma ação concreta de reconhecimento interno no próximo mês, seja um elogio público ou uma oportunidade de desenvolvimento.
Responder a essas perguntas exige coragem, mas é o que separa empresas que apenas falam em valorização das que realmente a praticam. Reconhecer o valor de quem já está dentro exige maturidade, consistência e atenção estratégica, pois isso impacta diretamente no engajamento, na produtividade e na retenção de talentos.
Construindo equilíbrio e protagonismo
Sim, é possível equilibrar valorização interna e renovação externa, mas para isso profissionais e líderes precisam fazer a sua parte. Não é saudável apenas acusar o líder de não reconhecer seu talento, assim como não é justo, tendo pessoas qualificadas dentro da organização, optar sempre pela seleção externa.
Profissionais devem cultivar curiosidade e vitalidade, comunicar suas entregas de forma estratégica e assumir protagonismo em projetos, feedbacks e oportunidades.
Líderes, por sua vez, precisam observar quem mantém performance consistente, reconhecer seus talentos, promover conversas francas sobre carreira, desempenho e expectativas e valorizar o histórico e a contribuição de cada colaborador, equilibrando renovação e experiência interna.
No fim das contas, construir uma cultura de valorização interna não é responsabilidade apenas da empresa, nem apenas do profissional. É uma via de mão dupla que exige coragem, autoconhecimento e compromisso.
Quando líderes e colaboradores assumem sua parcela de protagonismo, seja oferecendo reconhecimento genuíno ou buscando mostrar o próprio valor, cria-se um ciclo virtuoso. O desafio está lançado: será que você está fazendo a sua parte para que talento e reconhecimento caminhem lado a lado?
Nesta coluna, trarei reflexões sobre carreira, liderança, coaching e tendências que impactam o mundo do trabalho. Sua participação é muito bem-vinda! Comente, envie sua pergunta ou fale comigo pelo Instagram: @delaniasantosds. Aproveite para se inscrever no canal do YouTube: @delaniasantosds. Será um prazer ter você comigo nessa jornada. Até a próxima!