Motoristas de aplicativos de Fortaleza faturam até R$ 7 mil com ‘lojas móveis’ – Negócios

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Motoristas de aplicativos de Fortaleza estão faturando até R$ 7 mil por mês em lojas móveis dentro dos carros. O objetivo principal dos profissionais é complementar a renda das plataformas com produtos que vão desde alimentos rápidos a maquiagens e perfumes importados

Os produtos ficam expostos em estantes nas costas do banco do carona e refletem à baixa remuneração atual dos aplicativos ao mesmo tempo que evidencia a criatividade dos motoristas. 

É o caso de Hildebrando Vieira, de 40 anos. Após nove anos rodando como motorista de aplicativo, ele apostou na sua loja dentro do carro e afirma: “não me arrependo do investimento”. Ele conta que nos meses ruins de venda, fatura de R$ 3 mil a R$ 4 mil e, nos meses bons, chega aos R$ 7 mil. Os seus valores, somados aos da venda da esposa, Érika Teixeira, 42 anos, podem chegar a cerca de R$ 10 mil.

imagem de homem sorridente segurando duas embalagens de perfumes.

Legenda:
Hidelbrando Vieira viu a renda melhorar com venda de perfumes similares.

Foto:
Ismael Soares.

 
Para aumentar ainda mais os recursos, Érika, que também é motorista de aplicativo, trocou de carro para poder também instalar uma loja. “Antes tinha um Kwid, mas o espaço era pouco. Agora, conseguimos trocar para um Argo e colocar a lojinha que ele (o marido) tinha feito. Ela (a loja) é um pouco menor, mas também fatura bem”.

Mulher encostada em carro com produtos nas mãos.

Legenda:
A motorista Érika fez um investimento em um carro maior para poder instalar a loja móvel no seu carro.

Foto:
Ismael Soares.

Quando o assunto é quem são os clientes, o casal é rápido: as mulheres. Eles afirmam que muitas, além de comprar na hora da corrida, ainda fidelizam.

Elas compram, pegam o contato e ficam clientes. Já fiz muitas corridas para entregar produtos que as clientes compraram uma vez, gostaram e quiseram mais. Isso é muito gratificante e mostra que estamos no caminho certo”.


Érika Teixeira

motorista de aplicativo

Esse é o caso da diarista Rose Santos. Cliente da Érika no carro por aplicativo, ela se viu beneficiada com a loja móvel. Ela relata ter uma vida corrida entre as casas dos clientes e gosta da praticidade da compra no deslocamento.

“Ter a comodidade de pegar um aplicativo e ainda a possibilidade de comprar é muito legal. Além disso, são produtos bons, maquiagem, perfume, coisas que a gente usa no dia a dia, mas que muitas vezes você não tem aquele tempo de poder comprar. E sem falar também que além de você comprar dentro do carro, você com o contato, eles vão deixar em casa”.

Rose ainda destaca que gosta muito de perfumes, mas que muitos originais não cabem no bolso. “Aí temos essa opção dos similares, que são maravilhosos, não deixam nada a desejar, e ainda dá pra pagar”, reforça.

Mulher escolhendo produto enquanto anda de carro por aplicativo.

Legenda:
Motoristas instalam câmeras nos carros, mas afirmam que não sofreram furtos.

Foto:
Ismael Soares.

Vendas são a principal fonte de renda de motorista

David Júlio, 38 anos, é motorista de aplicativo e, segundo o profissional, ele foi um dos pioneiros nas “lojas sobre rodas” em Fortaleza. David afirma ainda que atualmente há uma comunidade de cerca de 50 motoristas de aplicativo empreendendo nas duas frentes de trabalho.

porta de carro aberta, mostrando o banco traseiro. No encosto do banco diateiro tem uma vitrine de produtos de beleza.

Legenda:
Ao entrar no carro, cliente só recebe informações sobre os produtos se pedir.

Foto:
Ismael Soares.

Ele conta que a intenção de diversificar a renda surgiu há cerca de três anos, ao perceber que atendia menos passageiros e a renda diminuindo. Além disso, o motorista conta que sempre foi empreendedor.

“Com a entrada de cada vez mais motoristas, a demanda de corridas diminuindo, automaticamente eu ia ter que passar mais tempo na rua e isso não era o que eu queria, então eu fui procurar algo para agregar no meu dia a dia, foi quando achei a “loja sobre rodas”, diz.

No início, era apenas uma prateleira com produtos de maquiagem e doces. Atualmente, David tem quatro prateleiras cheias de produtos. Ele não revelou quanto ganha por mês, mas afirma que a comercialização na loja móvel representa a principal fonte de renda do profissional.

“Hoje não me vejo sem a loja. Se me perguntar, David, você sai de casa para rodar (no app) ou para vender, eu respondo rápido: para vender. Esse é o meu ganha-pão. Tanto que adquiri uma franquia de perfumes para distribuir para outros motoristas que querem investir nessa atividade”, afirma.

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O empreendedor relata ainda que cada motorista tem o seu nicho. Alguns vendem caneta, chaveiros, bolo de pote e outros tantos produtos, mas com a condição de não importunar o cliente.

“Deixamos os produtos expostos e não podemos abordar, por uma regra da empresa do aplicativo. Então, se o passageiro pergunta é que falamos e oferecemos. Sem constrangimento para nenhuma das partes”, reforça.

Propaganda boca a boca e confiança ainda são regra

Hildebrando, que pegou dicas com David, ressalta que mantém o carro impecável. Sempre limpo e com cheiro de seus produtos. Ao todo, é possível contar mais de 100 variedades entre fragrâncias, maquiagens e outros produtos. Tudo com o estoque no banco da frente e a possibilidade de testar antes de comprar.

Questionado sobre o possível receio de ter produtos furtados, o motorista afirma que em um ano de loja nunca foi roubado. Porém, de tanto as pessoas perguntarem se ele não tinha medo, acabou instalando uma câmera.

“Coloquei ali e acho que a câmera, por si só, já intimida alguém que fosse fazer o mal. Graças a Deus, nunca desconfiei de ninguém e nunca precisei olhar as imagens no final do dia”.

Tanto Hildebrando como David usam uma vitrine que adquiriram de um desenvolvedor de Goiânia (GO). Eles comentam que foi inspirado neste motorista do Centro-Oeste que tiveram a ideia de implantar em Fortaleza e já sabem que virou tendência em outras capitais, como Recife e Belo Horizonte.

Da vitrine no carro à loja no Centro

Iranilda Guedes, 42 anos, viveu na pandemia uma situação financeira complicada. Com o fechamento das lojas no Centro de Fortaleza, ela precisou parar de vender seus produtos de alimentação e encontrou nos carros por aplicativo a única forma de sobreviver.

Detalhes de produtos de beleza labial, como gloss e batons.

Legenda:
Mulheres são o maior público de quem vende durante as corridas de carro por aplicativo.

Foto:
Ismael Soares.

Porém, sua “veia de vendedora” sempre esteve presente e assim que as coisas melhoraram, ela começou a vender produtos de beleza durante as viagens.

“Na pandemia não tinha como vender perfume, porque as pessoas mal tinham para comer. Mas assim que melhorou, eu já comecei a oferecer minhas fragrâncias e, desde então, elas são um sucesso de venda”, conta.

O comércio sobre rodas deu tão certo que Iranilda cresceu suas vendas e, atualmente, está com uma loja na área central de Fortaleza onde ela fica durante a manhã e o filho, de tarde. É neste período do dia que ela volta ao volante para trabalhar na sua “loja móvel”.

Sobre os preços dos produtos, ela revela que tem perfume a partir de R$ 40 até produtos para uso profissional, em salão de beleza, que podem custar até R$ 600.

“Sobre a renda, com certeza os produtos me dão mais dinheiro, mas eu continuo no carro porque conheço pessoas, faço clientes e aumento ainda mais as minhas vendas, graças a Deus”, revela.

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