Impacto é grande, mas lista de Fachin não derruba governo de Michel Temer

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O impacto da divulgação da Lista de Fachin será intenso. O Congresso entrará em estado de criogenia por umas duas semanas. Pelo menos. Hectolitros de tinta e toneladas de papel foram gastos para publicar nesta manhã de 4ª feira (12) as listas que estão na web desde ontem. Michel Temer, 76 anos, tem o hábito de ler os jornais em papel. Deve estar impressionado.

O Jornal Nacional, da TV Globo, dedicou espetaculares 34min29seg ao caso na sua edição de 3ª feira. Outros 11 minutos foram consumidos por outros casos da Lava Jato. O mais provável, embora incerto, é que algum ministro possa não suportar a pressão.

Tudo considerado, é um momento de grande tensão no mundo da política. Em Brasília, a sensação de “fim do mundo” era enorme.
Mas o mundo não vai acabar.
Passada a turbulência inicial, Michel Temer ainda estará no Palácio do Planalto.

Eis qual pode ser o impacto de médio prazo com a divulgação das delações:

MUDANÇAS NA ESPLANADA

Os titulares de oito pastas são alvos de inquéritos. Seus apoiadores no Congresso também estão encrencados. O Planalto pode ser compelido a realinhar forças dentro do governo, com algumas demissões. Perde-se tempo e energia.

CONGRESSO PARADO
 
Líderes e congressistas de relevo são alvos de inquérito no STF. O Poder Legislativo se enfraquece para defender reformas duras como a da Previdência e a trabalhista. Pior: presidentes de comissões especiais e relatores das reformas estão citados na lista de Fachin;Previdência mais lenta –haverá paralisia no Congresso. Torna-se inevitável a reforma ser jogada para o 2º semestre. O texto final será ainda mais desossado.

ECONOMIA MAIS INSTÁVEL

Depende da reação dos agentes do mercado. Se acreditarem que Michel Temer terá fôlego para aprovar a Previdência ainda neste ano, as coisas se estabilizam. Se começar a haver muita dúvida, o governo desanda. Importante notar: o presidente da República sabe disso e vai reagir antipolítica em alta – uma geração de políticos está sendo dizimada. Podem até não ir para a cadeia. Mas as citações sobre recebimento de dinheiro já os joga num opróbrio inexorável. Em 2018 abre-se uma janela para o discurso contra “tudo o que está aí”. Pavimenta-se o caminho para outros “Joãos Dorias”.

AS OPÇÕES PARA TEMER

O presidente da República pode ser acusado de muita coisa, menos de ser ingênuo e inexperiente. Sabe exatamente o que está se passando. Está se movimentando. Terá de começar uma nova rodada de conversas com figuras-chave do establishment.

Precisa da boa vontade com o discurso de sempre: “Eu quero fazer as reformas. Acabar com o meu governo é o pior caminho. O atraso será muito maior. Tudo vai ficar para 2019. Ajudem-me a ficar na cadeira e tocar o programa de austeridade fiscal e de reformas”. Essa narrativa colou até agora por absoluta falta de alternativas.

A lista de Fachin tampouco produz opções para uma eventual troca de governo. É improvável que as “powers that be” encontrem alguma alternativa a Michel Temer no curto prazo. Também não há, no momento, sinal de movimentos populares preparando grandes atos contra a atual administração federal.

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