Relatório do Bradesco BBI, divulgado neste mês, aponta que o problema do curtailment – cortes na geração de energia renovável – continua se intensificando no País. Em junho, o desperdício de energia atingiu o assustador nível de 28%, um recorde nacional.
O Ceará, conforme a pesquisa, está entre os mais afetados, com uma perda de 16% na geração solar centralizada. Veja abaixo o ranking com os estados mais prejudicados.
- Bahia: 24%
- Pernambuco: 20%
- Ceará: 16%
- Rio Grande do Norte: 16%
Os cortes devem continuar crescendo no segundo semestre, projeta o relatório.
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O que é curtailment?
O termo, que pode ser traduzido como “restrição” ou “despacho zero”, refere-se à limitação da geração de energia imposta a grandes usinas mesmo quando há condições ideais de vento ou sol, devido a gargalos na rede de transmissão.
Na prática, isso significa que parte da energia gerada por fontes renováveis não chega ao consumidor, porque o sistema não tem capacidade para escoá-la. É algo como ter uma grande produção de soja e não possuir estradas para transportá-la.
Essa restrição ocorre especialmente em regiões onde a geração cresceu mais rápido do que a infraestrutura para transportar a eletricidade, como o Nordeste.
No Ceará, apesar de forte potencial solar, há gargalos na rede. Em momentos de baixa demanda ou alta geração, usinas locais são forçadas a reduzir produção, e isso causa prejuízos para as empresas que produzem energia renovável. É como se a energia fosse para o ralo.
Causas e projeção até 2029
Estudo do ONS (Operador Nacional do Sistema) divulgado em maio deste ano identifica três principais causas para os cortes:
- Confiabilidade (ligada à segurança elétrica)
- Indisponibilidade externa (fora da gestão direta das usinas)
- Razão energética (excesso de oferta em relação à demanda).
‘Geração distribuída não pode ser penalizada’
O empresário cearense Lucas Melo, da Sunplena Energia, lembra que a Geração Distribuída (GD) não é controlada pelo ONS e, portanto, não pode ser penalizada neste cenário.
“A GD é conectada à rede de distribuição, próxima ao consumo, e não depende da transmissão, onde ocorrem os cortes. Qualquer tentativa de restringi-la por esse motivo seria tecnicamente incorreta e desproporcional”, destaca o especialista.
Ele reforça que a GD responde por 70% da geração solar no país, movimentando uma cadeia produtiva com milhares de pequenos empresários e consumidores que buscam economia na conta de luz e sustentabilidade.
Horário de pico
O relatório do ONS ainda projeta a evolução do curtailment até 2029, com base em diferentes cenários de expansão da geração eólica e solar. As estimativas indicam que os cortes devem se concentrar no período entre 9h e 16h, justamente quando a geração solar atinge seu pico.
Mesmo com a expansão da rede de transmissão, o ONS prevê que os cortes por razões energéticas continuarão relevantes, exigindo medidas regulatórias para integrar de forma mais eficiente a geração distribuída, modernizar os requisitos técnicos e revisar os sinais tarifários.
O documento recomenda ações estruturantes para garantir equilíbrio entre expansão renovável, segurança do sistema e equidade na distribuição dos impactos do curtailment.