O cenário atual do Aeroporto Internacional de Fortaleza — Pinto Martins é de relativa estagnação na movimentação de passageiros. Nesse ritmo, o empreendimento só deve recuperar patamares de 2019, considerado o melhor ano desde o início da administração da concessionária Fraport Brasil, quase 10 anos depois, em 2028.
A estimativa foi compartilhada por Andreea Pal, CEO da empresa, em entrevista ao Diário do Nordeste. Ela é categórica ao afirmar que, após a pandemia, “a retomada é mais devagar do que se esperava”. Para ela, o problema não afeta apenas Fortaleza, mas também demais cidades mundiais de alto tráfego aeroportuário.
Em virtude disso, ela destaca que o contrato da concessão do Aeroporto de Fortaleza foi revisto, visando um “certo reequilíbrio econômico” como forma de compensar a Fraport Brasil pelas perdas financeiras no período.
“Infelizmente, ainda não conseguimos recuperar o número de passageiros de 2019. Recebemos um apoio do Governo anualmente até chegar a um certo nível de passageiros, que esperamos atingir apenas em 2028. Por causa disso, a concessão está equilibrada, mas, obviamente, a nossa expectativa de crescimento era um pouco maior, porque a gente acredita que essa região tem outro potencial. A Covid foi em 2020, mas não conseguimos recuperar até agora”, pondera.
“A matriz (Frankfurt Am Main) também não chegou aos números de 2019. Sofremos, mundialmente, uma falta de aeronaves. Tínhamos também nosso hub da Gol antes da Covid, que caiu, e agora estamos trabalhando muito junto à Latam para conseguir recuperar”, ressalta.
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Essa retomada lenta do número de passageiros não é uma exclusividade de Fortaleza, embora a capital cearense tenha particularidades. Andreea Pal relembra o hub da Gol, anunciado em 2017 como parte da concessão.
Atualmente, o centro de conexões da companhia foi para Salvador, e a Latam ocupa agora o posto de hub no Pinto Martins. Além dessa questão, a oferta de aeronaves e de peças de reposição está baixa para a crescente demanda, bem como o elevado preço das passagens, que dificulta uma ocupação maior de aviões.
Apesar disso, é estratégico para a Fraport Brasil manter o aeroporto de Fortaleza, que, ao contrário do de Porto Alegre, está mais distante de uma cidade global como São Paulo.
Por outro lado, Fortaleza possui maior proximidade com destinos nos Estados Unidos e na Europa, e os voos que partem e chegam à capital cearense geralmente operam com alta ocupação.
“Fortaleza é interessante do ponto de vista de entrada de passageiros dos Estados Unidos e da Europa. É mais longe dos passageiros que vêm de São Paulo e Brasília, mas o voo para Fortaleza é mais caro que um voo para Salvador e ainda Recife, não é uma diferença tão grande. Se a passagem é tão cara, obviamente que o cliente escolhe o que é menos caro, e temos que lutar contra essa diferença”, considera.
Movimentação aeroportuária aquém do ideal em Fortaleza
Os anos de 2018 e 2019 — os últimos antes da pandemia — continuam sendo disparados os melhores em movimentação de passageiros no Pinto Martins sob concessão da Fraport.
No caso de 2019, especificamente, foram mais de 7,2 milhões de passageiros, mesmo em meio às reformas de modernização e ampliação do aeroporto. Desde então, nenhum dos anos seguintes conseguiu sequer ultrapassar a marca de 6 milhões de turistas.
Para 2025, ainda que o ano esteja em curso e duas novas frequências estão previstas para começarem no final do ano — uma nacional (Foz do Iguaçu, no Paraná) e uma internacional (Montevidéu, no Uruguai) —, Andreea Pal admite que “já sabe mais ou menos como vai fechar o ano”.
Isso prejudica que a concessão tenha uma rentabilidade maior, como explica a CEO da Fraport Brasil. Sem a renegociação do contrato com o Governo Federal, ela revela que dificilmente o Aeroporto de Fortaleza seria atrativo para investidores.
“Aqui não se fala necessariamente do lucro, isso não é o problema. O problema é o aumento do lucro. A princípio, todo negócio funciona assim: o investidor primeiro coloca dinheiro e depois espera recebê-lo de volta com ganhos. Por enquanto, conseguimos manter o valor do investimento na contabilidade da matriz”, observa.
Fraport não tem planos para ampliar aeroporto em Fortaleza
Além da capital cearense, a empresa alemã administra o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre. À frente dos dois equipamentos aeroportuários, o investimento já superou a casa dos R$ 3,6 bilhões em oito anos.
Somente em Fortaleza foram desembolsados R$ 1,6 bilhão para reformar e ampliar o aeroporto, obras que eram obrigatoriedade contratual da concessão, assim como a nova pista, agora com 2.755 metros de extensão por 45 metros de largura. As intervenções foram concluídas no final de 2020, durante a pandemia.
Em 2025, a CEO da Fraport explica que a atenção ao aeroporto é constante e, frequentemente, o local passa por mudanças estruturais. Atualmente, as principais obras envolvem os elevadores e uma das subestações de energia que atendem ao complexo aeroportuário.
“O passageiro não vê, mas é um investimento bem grande. Estamos reorganizando a parte de carga doméstica, que foi descuidada no último tempo, porque nos concentramos no aeroporto de carga internacional. Trabalhamos a cada dia com melhorias: mais uma loja, vamos mudar um pouco para aumentar a percepção do passageiro das lojas que temos”, declara.
“Não significa que vai ter mais um terminal, mais uma pista ou alguma outra coisa, mas a gente gosta de cuidar do nosso aeroporto. A gente não deixa as coisas estragarem e estamos permanentemente observando como melhorar, como manter um padrão de qualidade do equipamento para oferecer um serviço de alto nível”, acrescenta Andreea.
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Andreea Pal, CEO da Fraport Brasil, analisa concessão do Aeroporto Internacional de Fortaleza – Pinto Martins
Fraport Brasil/Divulgação
Os números da Fraport Brasil no balanço, que incluem melhorias e obrigatoriedades contratuais, apontam que o Aeroporto Pinto Martins dobrou a capacidade em relação à administração anterior, da Infraero. No último dado disponibilizado pela concessionária, de 2024, a receita bruta do equipamento ficou próxima dos R$ 237 milhões.
Atualmente, são mais de 3 mil funcionários fixos no aeroporto de Fortaleza. A duplicação do terminal de passageiros também foi destaque, e o espaço conta, atualmente, com 72 mil metros quadrados (m²). A única pista de pousos e decolagens foi ampliada em 210 metros e é capaz de receber aeronaves de grande porte, como o Boeing 777 e o Airbus A330.
Os portões também aumentaram, de 11 para 21, bem como a disponibilidade de 28 posições para aeronaves. Toda a área do check-in é nova, com 60 balcões de atendimento no primeiro andar.
Fortaleza é mais vantajosa para turistas internacionais; Porto Alegre atrai visitantes nacionais
A celebração de oito anos de concessão dos aeroportos brasileiros administrados pela Fraport vem acompanhada de um balanço entre as potencialidades de ambos os equipamentos.
Para Andreea Pal, os dois têm muitas semelhanças, como a capacidade do terminal de passageiros e a localização estratégica: um está no Nordeste brasileiro e outro, no extremo Sul do País.
A CEO da Fraport Brasil chama a atenção que a conectividade internacional de Fortaleza é superior à de Porto Alegre.
Em setembro deste ano, são sete destinos internacionais (Buenos Aires, Caiena, Lisboa, Miami, Orlando, Paris e Santiago) a partir da cidade cearense, contra cinco da capital gaúcha (Buenos Aires, Cidade do Panamá, Lima, Lisboa e Santiago).
Além disso, a capital cearense abrange uma área de influência maior, por ser estratégica no Norte e Nordeste do Brasil. No caso de Porto Alegre, Andreea Pal ressalta a proximidade com países sul-americanos, bem como áreas turísticas no Sul do País, como Gramado.
“Em Fortaleza, tem a conexão com o Norte e Nordeste do País e também internacional. Porto Alegre tem posição estratégica para cobrir os países do Sul. O problema de Porto Alegre é que fica muito perto de São Paulo. É muito difícil convencer uma empresa de fora não chegar para São Paulo, mas chegar para Porto Alegre. Em Fortaleza, não temos esse problema, é muito mais interessante para uma empresa por causa do tempo voar Fortaleza e não ter que descer até o Sul do País”, diz.
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Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, é o outro equipamento aeroportuário administrado pela alemã Fraport no Brasil
Fraport Brasil/Divulgação
Em resposta aos questionamentos sobre o crescimento de movimentação de passageiros no aeroporto de Fortaleza a níveis pré-pandemia, Andreea Pal mira a retomada, ainda que tardia, com manutenção dos investimentos no equipamento.
“A gente acredita muito no potencial turístico, não só de Fortaleza, mas também do Brasil. Se não tivéssemos a confiança que as coisas melhorariam, não precisávamos ficar aqui. Acreditamos que voltaremos a um nível de crescimento esperado e estamos esperando passar esse momento na indústria aeronáutica, que afeta muito as decisões das empresas aéreas”, classifica a CEO da Fraport Brasil.