Pouco brasileiros sabem, mas no sertão nordestino, mais especificamente na região do Cariri cearense, encontra-se uma das reservas paleontológicas mais importantes do planeta.
No nosso imaginário coletivo, quando pensamos em fósseis de dinossauros e de outros animais dos períodos históricos do nosso planeta, tendemos a pensar sempre em lugares distantes, em outros países, por exemplo.
E assim, acabamos sempre pensando em lugares de fora sem pensar no que temos aqui dentro do nosso país. Nesse contexto, entra um fato histórico que talvez poucos brasileiros conheçam: o berço de fósseis de até 100 milhões de anos que existe no Cariri cearense.
A Chapada do Araripe, que está em grande parte localizada na região caririense no sul do Ceará, entre os municípios de Crato, Barbalha, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Santana do Cariri e Nova Olinda, possui uma reserva fossilífera que é considerada uma das mais relevantes do planeta.
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Os fósseis presentes nessa região são fundamentais para compreender a história da evolução da biodiversidade que ocupou essa localidade, como peixes, insetos, plantas, pterossauros e até dinossauros.
Por conta disso, em 2006 o Geoparque Araripe foi o primeiro geoparque do Brasil e das Américas a ser reconhecido pela UNESCO pelo seu valor histórico, científico e cultural, dando visibilidade internacional à região.
Em termos mais paleontológicos, os fósseis encontrados nessa região são do período Cretáceo, que ocorreu há aproximadamente 100 milhões de anos. Além disso, esses registros históricos são reconhecidos mundialmente como a maior reserva de fósseis de pterossauros do mundo, tendo também registros de insetos de até 110 milhões de anos que estavam presentes na Bacia do Araripe. Alguns foram catalogados por só existirem nessa região e estarem tão conservados que até estruturas internas, como as asas dos insetos, podiam ser estudadas.
No entanto, a preservação da Chapada do Araripe e dos seus registros históricos enfrentou diferentes desafios ao longo das últimas década, por causa do tráfico ilegal de fósseis que ocorreu e infelizmente ainda ocorre na região.
Por anos, os registros fossilíferos do Cariri foram vítimas do contrabando para outras localidades do país e do mundo. Um dos casos que se tornou mais famoso recentemente foi o do fóssil do pterossauro Ubirajara jubatus, levado ilegalmente para Alemanha cerca de 30 anos atrás, mas que felizmente, após anos de negociações do governo brasileiro e do Estado do Ceará junto a entidades acadêmicas, como a Universidade Regional do Cariri (URCA), com o governo alemão, foi possível repatriar o fóssil ao Brasil em 2023 – além de vários outros de valor incalculável para paleontologia, cultura e história da biodiversidade da região.
Por isso, é essencial defender, reconhecer e prestigiar a importância desses registros fossilíferos que guardam parte da história do nosso planeta e que estão presentes em uma região tão viva em cultura, arte, religiosidade, história e ciência do nosso país.
E para os interessados em conhecer a parte do acervo fossilífero da região, eles podem ser encontrados e contemplados no Museu de Paleontologia Cidade Plácido Neves em Santana do Cariri, Ceará. Viva o Cariri cearense!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.