Artigo: Ascensão Social

Leia em 2 minutos

Há 25 anos, Maria Cirlene veio lá de Brasília e da zona rural do município de Miracema-TO, levou embora Doralice, com seus treze anos incompletos, para auxiliá-la nos afazeres domésticos. Pagou-lhe um salário mensal, matriculou-a em escola pública e ela se profissionalizou, se casou e está com uma vida material melhor que a que deixou para trás.

Esse ciclo se repete com as compreensíveis variações no destino de cada uma dessas meninas que partem da roça para a capital.
Germana, a próxima candidata à nova vida, agora levada por Doralice, saíu do sertão com um corpinho ainda mirrado e muito dedicada aos colegas. Quando no seu meio, juntava-se à garotada para coletar mangaba, buriti, pequi, bacaba, jogava futebol e ajudava com muita alegria a sua mãe e os outros irmãos na roça, na cozinha e lavando roupa na tábua, sob a sombra de uma frondosa gameleira.
Eis que, três anos depois, Germana volta para gozar merecidas férias, encorpada, bonita, bem vestida e falando com sotaque diferente, carregado na pronúncia das letras erre.
Na festinha do sábado à noite, os coleguinhas de antes que com ela coletavam frutas e jogavam bola, agora intimidados com a bela moça que ganhou encantos na capital, relutavam, ninguém tinha coragem para tirá-la para dançar. Valdecir, o mais afoito, incentivado pelos outros, criou coragem e a ela se dirigiu:
– Vamos dançar, Germana!
De cima para baixo, ela o olhou e dando-lhe uma remota esperança, assim respondeu com o seu novo sotaque:
– Ó Varldecirrr!! Deixa pra depois, tá!?

++++++


JOSÉ EPIFANIO PARENTE AGUIAR

Sou um Baby Boomer, portanto um véi esquisito para as gerações X, Y, Z e um monstrengo para a geração Alfa.

*Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

TAGS:
Compartilhe esta notícia