A Caatinga como você nunca viu: exposição gratuita e interativa revela múltiplas surpresas do bioma – Verso

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Uma das reações mais presentes em “Caatinga: Um Novo Olhar – Entre Nesse Clima” é de admiração. Pelo que se vê, claro, mas principalmente pelo que se passa a saber a partir dali. São informações que, por vezes, quebram anos e anos de uma perspectiva enviesada sobre uma das paisagens mais famosas da geografia brasileira. Não é pouca coisa.

Em cartaz na Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará, campus do Pici, a exposição é imperdível. Pequena, aconchegante, mas muito certeira no que se propõe, tem como objetivo desmistificar o que geralmente se atribui à caatinga: um bioma sem vida, de árvores retorcidas e com pouca diversidade. A cada passo na mostra, essas impressões ficam para trás e convidam outras a entrar – muito mais condizentes com a realidade.

“Aqui as pessoas encontrarão uma caatinga diferente”, introduz Cássia Pascoal, coordenadora de relacionamento comunitário e educação ambiental da Associação Caatinga, entidade à frente do projeto. “Entenderão por que ela é uma floresta totalmente a cara do Brasil e do Nordeste, além de toda a diversidade que possui – de paisagens, de plantas, de animais”.

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Esse componente plural é apresentado em 15 painéis com várias propostas. O que abre a exposição, por exemplo, possui olhos mágicos estrategicamente posicionados nas diferentes regiões brasileiras de modo a comparar as múltiplas paisagens da caatinga. É possível vê-la desde o modo mais estereotipado quanto envolvida por um verde bonito de contemplar.

Mais à frente, você pode conhecer como o tatu-bola, espécie tão presente na fauna do bioma, se transforma em bolinha, ajudando-o na defesa contra predadores. A forma como isso acontece é tão interessante quanto lúdica: com as próprias mãos, segurando um bastão, você passeia pelas quatro fases do pequeno tatu. Um primor.

Na imagem, um dos painéis da exposição “Caatinga: Um Novo Olhar – Entre Nesse Clima”, em cartaz na Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará

Legenda:
Ideia da exposição é fazer com que público adentre numa floresta, do chão ao teto

Foto:
Fabiane de Paula

Tem mais: escutará o canto dos pássaros da caatinga; compreenderá como acontece a adaptação de algumas plantas e animais ao clima semiárido; e pode pisar na extensão do diâmetro real que uma árvore do bioma consegue alcançar. “Aqui descobrimos, de fato, esse universo da caatinga, uma floresta exclusivamente nossa”.

Como a exposição surgiu

Não é de hoje que a mostra está em cartaz. Apenas na Seara da Ciência da UFC, ela está desde 2018. A estreia, porém, aconteceu anos antes, em 2011, por meio do projeto No Clima da Caatinga, desenvolvido pela associação que leva o nome do bioma. A ação consiste em realizar iniciativas de educação ambiental para que todos possam conhecer o conteúdo e, assim, auxiliar na preservação dele.

A exposição começou de maneira itinerante, dentro de um cacto inflável; com o tempo, fixou-se em alguns espaços, até chegar onde se encontra atualmente. Cássia Pascoal celebra a parceria com a Universidade Federal do Ceará por acreditar que a instituição abre portas para uma diversidade de públicos conhecer o trabalho.

Na imagem, um dos painéis da exposição “Caatinga: Um Novo Olhar – Entre Nesse Clima”, em cartaz na Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará

Na imagem, um dos painéis da exposição “Caatinga: Um Novo Olhar – Entre Nesse Clima”, em cartaz na Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará

Na imagem, um dos painéis da exposição “Caatinga: Um Novo Olhar – Entre Nesse Clima”, em cartaz na Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará

Legenda:
Da chance de ocupar o diâmetro real do tronco de uma árvore da caatinga a observar as diferentes paisagens do bioma e ver como o tatu-bola se transforma em bolinha, diversas experiências percorrem a mostra

Foto:
Fabiane de Paula

“Ao longo dos 26 anos de atuação da Associação Caatinga, temos a missão de difundir as riquezas do bioma, pesquisando e produzindo muito material. O papel da educação ambiental é fundamental para desmistificar a imagem da caatinga sem vida. E podemos ir além dos livros, artigos e revistas: outros instrumentos, como a exposição, são necessários”, observa.

Faz sentido. No tempo em que nossa equipe esteve na mostra, crianças, jovens, adultos e idosos foram conferir de perto o trabalho, e era nítida a sensação de encantamento – pelo que já se sabia, mas, sobretudo, pelo que se estava conhecendo naquele instante. Nesse sentido, o papel dos monitores que conduzem o passeio é fundamental.

Na imagem, um dos painéis da exposição “Caatinga: Um Novo Olhar – Entre Nesse Clima”, em cartaz na Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará

Na imagem, um dos painéis da exposição “Caatinga: Um Novo Olhar – Entre Nesse Clima”, em cartaz na Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará

Legenda:
Ouvir o canto dos pássaros da caatinga e perceber como os povos desse bioma vivem também são parte da mostra

Foto:
Fabiane de Paula

Com carisma e profundo conhecimento sobre o tema, eles vão de uma ponta a outra sem titubear na arte de repassar saberes. A estrutura labiríntica da mostra favorece isso: a ideia é proporcionar a sensação de entrar em uma floresta e perceber, nela, cada detalhe pertinente à caatinga, do chão ao teto. É feito um abraço. “A caatinga, realmente, é extraordinária”.

Para onde a mostra vai

Ainda sem data para ocupar outro espaço, a exposição deve permanecer mesmo na Seara da Ciência da UFC. Bióloga na Universidade, Alice Maciel comemora a parceria com a Associação Caatinga porque a entidade tem força suficiente para ir além da comunidade acadêmica, atingindo públicos múltiplos e desejosos de aprofundar aprendizados.

“É um sucesso. Desde 2018, a mostra tem angariado um alto número de visitantes. Acho que as pessoas vão conversando umas com as outras, indicando que visitem a exposição, e a quantidade de pessoas tem ampliado. O público sai satisfeito, feliz e conhecendo mais sobre o bioma da caatinga, e ainda podem agir com mais consciência para preservá-lo”.

Na imagem, um dos painéis da exposição “Caatinga: Um Novo Olhar – Entre Nesse Clima”, em cartaz na Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará

Legenda:
Exposição deve continuar na programação da Seara da Ciência da UFC

Foto:
Fabiane de Paula

Eis uma das partes mais importantes do trabalho: na fase final da visita, nos deparamos com pelo menos três painéis nos quais a proposta é atribuir um fator prático ao conhecimento. É quando as pessoas são convidadas a refletir de que modo podem agir para que um território essencialmente nosso não desapareça nem diminua de relevância.

Há outro componente valioso, da ordem do vital: reconhecer que os vários mecanismos de sobrevivência da caatinga refletem nossos próprios processos enquanto seres humanos. Somos o que somos, mas também conseguimos nos adaptar ao que precisamos ser. Se num momento galhos retorcidos, nutrindo-se para alimentar seiva, no outro generosa abundância de verde, aroma e vida.

“É isso que a caatinga faz, ela inspira – os povos do semiárido, nossos antepassados e nós, do ambiente rural ou urbano. Força, inteligência e resiliência”.

Serviço
Exposição “Caatinga: Um Novo Olhar – Entre Nesse Clima”
Em cartaz na Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará (Rua Dr. Abdenago Rocha Lima, s/n – Pici). Funcionamento: de segunda a sexta, de 9h às 17h. Gratuito. Mais informações pelas redes sociais da Seara

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