Após saída de Ciro, Sarto e Roberto Cláudio, PDT Ceará tenta se reerguer e aposta em aliança com PT – PontoPoder

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Depois de três anos de rachas internos e da debandada de prefeitos e lideranças locais, o PDT do Ceará entra em uma nova fase. A sigla tenta “arrumar a casa”, segurar mandatários que não deixaram o partido e aposta em uma reaproximação com o PT cearense após a ruptura nas eleições de 2022. Para marcar esse novo momento, a legenda realiza, no próximo sábado (1º), uma convenção em Fortaleza.

Na recomposição, o deputado federal André Figueiredo (PDT) seguirá no comando da legenda no Estado, e terá a companhia do colega de Câmara, Mauro Filho (PDT), que deve assumir a vice-presidência estadual.

A dupla tenta reerguer a sigla que perdeu uma quantidade significativa de filiados, além de lideranças de peso, como o senador Cid Gomes (PSB), que deixou o partido em 2023, o ex-governador Ciro Gomes (PSDB) e os ex-prefeitos de Fortaleza José Sarto (PSDB) e Roberto Cláudio (que se filiará ao União Brasil), desfiliados neste ano. 

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Prioridades para o futuro

Quadro histórico do PDT e principal articulador da reestruturação da legenda no Estado, André Figueiredo afirma que a prioridade agora é apresentar candidatos fortes e competitivos nas eleições de 2026.

“Estamos priorizando a nossa nominata de federal e de estadual. Essa é a nossa prioridade, dentro de uma perspectiva de alinhamento com o presidente Lula, com o governador Elmano e com o prefeito Evandro Leitão”


André Figueiredo

Presidente do PDT Ceará

A expectativa de lideranças pedetistas é de que parte da bancada federal permaneça, embora Figueiredo reconheça que apenas Mauro Filho está garantido na legenda.

Atualmente, além do presidente estadual e do futuro vice-presidente, a bancada federal do PDT cearense é composta por Leônidas Cristino, Robério Monteiro, Eduardo Bismarck (licenciado) e Idilvan Alencar (licenciado).

Ao PontoPoder, Idilvan demonstrou cautela sobre o futuro partidário. Segundo ele, a decisão será tomada apenas no próximo ano. “Estou focado na educação, e minha definição atende à escuta das pessoas que me lideram: Cid Gomes, Izolda Cela, Camilo Santana, Elmano de Freitas e Evandro Leitão”, afirmou o secretário da Educação de Fortaleza. 

Os deputados Leônidas Cristino e Robério Monteiro também foram procurados, mas não responderam. Já Eduardo Bismarck disse ao PontoPoder que planeja trocar de partido para disputar as eleições do próximo ano.

Pendências do passado

A saída de Cid, em 2023, e de Ciro, Sarto e Roberto Cláudio, neste ano, promete reduzir as disputas internas entre os pedetistas. O senador liderava uma das alas que dividiu a legenda em 2022, já o trio integrava um grupo de oposição interna que polarizava o partido. 

Essa queda de braço entre os irmãos Ferreira Gomes e seus aliados mergulhou o partido em uma das maiores crises de sua história recente. 

Cid Gomes discursa em auditório. Ao lado dele, deputados estaduais e federais.

Legenda:
Saída de Cid impactou diretamente na influência do PDT sobre prefeituras do Ceará.

Foto:
Ismael Soares

Um dos maiores impactos foi na influência municipal do PDT Ceará. O partido elegeu 67 prefeitos em 2020, antes do racha interno, já no pleito seguinte, com o avanço das divisões, o número de eleitos caiu para cinco.

Apesar da saída formal de Cid e Ciro, alguns aliados diretos dos irmãos Gomes ainda permanecem na legenda, aguardando a janela partidária para seguir novos rumos.

Quanto aos aliados do senador, a direção pedetista tenta evitar novas desfiliações e aposta na reaproximação com o PT, tanto no plano estadual — sob a gestão do governador Elmano de Freitas — quanto no municipal, com o prefeito Evandro Leitão. Esse realinhamento, inclusive, deve ser confirmado na convenção do próximo sábado.

Giselle Bezerra, Ciro Gomes, Renata Jereissati, Tasso Jereissati e Ozires Pontes em ato político do PSDB.

Legenda:
Ciro se filiou ao PSDB na última semana, após convite de Tasso Jereissati.

Foto:
Thiago Gadelha

Reorganização e novo rumo

Em relação à ala cirista, a expectativa é de uma saída em bloco no próximo ano. O deputado estadual Antônio Henrique (PDT) confirmou, nesta terça-feira (28), ter recebido convite do deputado federal André Fernandes (PL) para ingressar no partido.

“Antes mesmo dele assumir a presidência (do PL Ceará), ele já me fez o convite. Estamos esperando a janela, nós quatro (deputados estaduais) do PDT, temos que respeitar a legislação. O PL tem me feito o convite e fico feliz de ter sido convidado. Acredito que é um projeto que está sendo construído para resgatar e transformar o povo cearense”, declarou.

Outro nome que planeja sair é o vereador de Fortaleza PP Cell (PDT). O político não esconde o desconforto com o atual rumo da sigla e já pediu, inclusive em live ao lado de André Fernandes, para ser expulso do partido e manter o mandato.

“Estão irredutíveis, mas eu estou decidido (…) O ideal é que não me segurem no partido, que me deem a carta de anuência ou me expulsem, eu não comungo com a linha de pensamento e nem com as ações do partido, não tenho nada a ver com o PDT”, disse na última quinta-feira (23).

Sem clima

Depois de 15 anos no PDT — partido que abrigou duas de suas quatro candidaturas à Presidência da República —, o modo como Ciro Gomes resolveu deixar a sigla causou insatisfação aos antigos aliados. Em agosto deste ano, o ex-ministro disse que havia uma tentativa de “compra dos partidos” e “suborno das burocracias partidárias“. 

“Juntando alho, gato, sapato, galinha, tudo junto ao redor de um único projeto, o poder pelo poder, sem limites. Isso é muito grave”, acusou. À época, André Figueiredo rebateu a fala do então correligionário. “Como membro há 41 anos do PDT apenas digo que nunca estivemos à venda. E que nossa ideologia sempre foi a mesma”, disse. 

A troca de críticas e demonstrações públicas de desconforto tornou evidente que nomes mais próximos ao ex-governador já estão de malas prontas.

Em entrevista à Veja, o presidente nacional do PDT, o ex-ministro Carlos Lupi, lamentou a saída de Ciro. 

“Eu não tinha lido nada, não me ligou, isso me deixou triste, a palavra é essa. Eu não trabalho com mágoa, não trabalho com raiva, mas, depois de tantos anos de convivência, não trocar uma palavrinha, não ligar? ‘Oi, estou indo para uma nova casa, para uma nova relação, queria te dizer tchau, mas muito obrigado'”


Carlos Lupi

Presidente nacional do PDT

Segundo Lupi, Ciro apenas enviou uma mensagem de “três ou quatro linhas” via Whatsapp. “Foi uma casa que deu a oportunidade a ele de ser candidato a presidente duas vezes. O resultado pode ser positivo, pode ser negativo, mas que abrigou ele durante 15 anos, não foram 15 dias. Então, é triste, mas é da política e é da vida. Eu olho para a frente e vou seguir”, concluiu.

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