Veja o que se sabe sobre o caso da brasileira que caiu durante trilha no vulcão Rinjani

Leia em 12 minutos

A publicitária brasileira Juliana Marins, de 26 anos, foi encontrada sem vida na terça-feira (24) pela equipe de resgate após quatro dias à espera de socorro. A brasileira estava próxima ao vulcão do Monte Rinjani, na ilha de Lombok, na Indonésia, desde sexta-feira (20), quando caiu de uma altura de aproximadamente 300 metros de distância da trilha que fazia.

Na quarta-feira (25), o corpo da brasileira foi retirado de montanha após sete horas de trabalho. A Agência Nacional de Busca e Resgate (Basarnas) da Indonésia revelou que o corpo da jovem de 26 anos foi levado para uma base. “Seja respeitoso, compreenda as limitações. Quando um acidente acontece, não culpe os socorristas“, disse a agência nas redes sociais.

Segundo a imprensa do país asiático, Juliana foi deixada para trás pelo guia, identificado como Ali Mustafa, após ela se queixar de cansaço. Ele, então, teria continuado a trilha com os outros cinco integrantes do grupo até o pico da montanha, mas ao retornar, não tinha encontrado mais a brasileira.

A jovem foi localizada por outro grupo de turistas que fazia a mesma rota. Usando um drone, o grupo avistou a brasileira e conseguiu o contato da família de Juliana, após a divulgação de vídeos dela no local, já que a jovem não era vista desde as 17h30 do sábado (horário local).

Quem era Juliana Marins

Juliana Marins era natural de Niterói, no Rio de Janeiro, tinha 26 anos e trabalhava como publicitária. Trabalhou em empresas do Grupo Globo, como Multishow e o Canal Off, e era formada em Comunicação pela UFRJ, tendo feito também cursos de roteiro, fotografia e direção de cinema.

Somando mais de 20 mil seguidores nas redes sociais, Juliana costumava publicar fotos e vídeos curtos de registros das viagens que faz. A jovem também era adepta do pole dance, que a levou a disputar competições pelo esporte.

Veja também


Relembre o resgate

A irmã da jovem, Mariana Marins, que soube do caso pelas redes sociais, afirmou que o resgate ainda não conseguia chegar a Juliana, pois o local era muito inóspito e com terreno arenoso, e que até por helicóptero ficaria impossível o resgate.

No domingo (22), as buscas teriam sido interrompidas pela piora das condições climáticas. Devido uma garoa, o terreno ficou úmido, o que fez ela descer ainda mais rumo ao precipício do vulcão. Na segunda-feira (23), a família divulgou que o resgate foi interrompido, mais uma vez, “por condições climáticas”. “Um dia inteiro e eles avançaram apenas 250 m abaixo, faltavam 350m para chegar na Juliana e eles recuaram”, escreveu a família nas redes sociais.

A informação sobre a morte de Juliana foi dada pela família através das redes sociais. Na segunda, drones conseguiram localizar a brasileira presa a um paredão rochoso. Já na terça, a equipe de resgate alcançou o local após dificuldades causadas pelas condições climáticas, e encontraram o corpo de Juliana já sem vida.

Família nega suporte

Após o desaparecimento da jovem, autoridades da Indonésia e a Embaixada do Brasil em Jacarta divulgaram informações de que a jovem teria recebido comida, água e agasalho. Entretanto, a família desmentiu as informações.

A representação brasileira em Jacarta tinha dito também que uma equipe de resgate havia conseguido chegar até Juliana após 16 horas de operação, algo também negado pela irmã de Juliana.

A jovem, que fazia um mochilão desde fevereiro, já havia passado por países como Filipinas, Tailândia e Vietnã. A trilha que ela fazia, iria de 20 a 22 de junho, por três dias e duas noites.

O que diz o governo brasileiro

Por meio de nota, o Ministério das Relações Exteriores informou que equipes da Agência de Busca e Salvamento da Indonésia iniciaram o terceiro dia de esforços para resgatar Juliana, por volta das 19h deste domingo, às 5h da manhã no horário local.

“Desde que acionada pela família da turista, a embaixada do Brasil em Jacarta mobilizou as autoridades locais, no mais alto nível, o que permitiu o envio das equipes de resgate para a área do vulcão onde ocorreu a queda, em região remota, a cerca de quatro horas de distância do centro urbano mais próximo”, disse o Itamaraty.

Confirmação da morte e retirada do corpo

A morte de Juliana foi confirmada na manhã de terça-feira (24), em informação divulgada pelos familiares nas redes sociais. 

“Hoje, a equipe de resgate conseguiu chegar até o local onde Juliana Marins estava. Com imensa tristeza, informamos que ela não resistiu. Seguimos muito gratos por todas as orações, mensagens de carinho e apoio que temos recebido”, escreveram os familiares.

Porém, o resgate do corpo ocorreu na manhã de quarta-feira (25). Parte do trajeto de resgate foi filmado por um dos montanhistas que ajudou na ação. O chefe da Basarnas, Marechal do Ar TNI Muhammad Syafi’i, confirmou que os próximos passos devem incluir o retorno do corpo ao Brasil.

“Após a entrega oficial do corpo pela Basarnas ao hospital, o processo de repatriação ou procedimentos posteriores ficarão a cargo das autoridades e da família”, disse Syafi’i a uma televisão indonésia.

Translado do corpo ao Brasil 

Após a retirada do corpo de Juliana Marins do monte Rinjani, os familiares se organizam para trazer o corpo ao Brasil. Na quinta-feira (26), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o governo irá custear o translado do corpo da jovem ao Brasil. 

Lula conversou com Manoel Marins, pai de Juliana, prestando a solidariedade pela morte da jovem. “Informei a ele que já determinei ao Ministério das Relações Exteriores que preste todo o apoio à família, o que inclui o translado do corpo até o Brasil”, escreveu o presidente no X.

Anteriormente, o Itamaraty havia informado que não seria possível realizar o custeio do translado do corpo de Juliana da Indonésia ao Brasil. Isso ocorre devido à legislação brasileira, que não prevê a cobertura dessas despesas por parte do Estado, mesmo em casos de grande repercussão. 

Veja também


O decreto 9.199/2017 estabelece que “a assistência consular não inclui o pagamento de despesas com sepultamento e translado de corpos de brasileiros falecidos no exterior, nem despesas com hospitalização, exceto em casos médicos específicos e atendimento emergencial de caráter humanitário”. 

Assim, o Itamaraty atua oferecendo orientações gerais aos familiares. Uma exceção foi aberta ao caso de Juliana Marins. 

Em meio à repercussão da morte de Juliana, o ex-jogador de futebol Alexandre Pato e o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), se ofereceram para arcar com os custos do translado. 

Vaquinha para voluntário do resgate

O corpo de Juliana foi resgatado pelo alpinista Agam Rinjani, que atuou voluntariamente nas buscas pela turista. O montanhista, nascido em Makassar, no sul da Indonésia, é conhecido por liderar expedições na ilha de Lombok. 

Após a notícia da queda de Juliana, o indonésio montou uma equipe de voluntários para ajudar nas buscas. Antes de subir com o corpo de Juliana, ele chegou a dormir ao lado dela na última noite, para impedir que a jovem escorregasse ainda mais no rochedo. 

Devido ao empenho no resgate, os brasileiros organizaram uma vaquinha para o alpinista. Inicialmente, Agam se recusou a compartilhar dados bancários, afirmando que se envolveu na missão por solidariedade, “de coração”, disse. Porém, após a insistência do público, ele aceitou receber doações

Agam disse que o dinheiro será compartilhado com os colegas que também participaram da operação de resgate.  

Homenagens para Juliana

Na manhã de quarta, Manoel Marins publicou uma carta aberta para filha, assinada por ele, a mãe e a irmã dela. No texto, definiu Juliana como “sapeca, inquieta, de sorriso lindo e uma imensa vontade de viver intensamente”, contando ainda sobre a vontade dela de viajar. 

Já na noite de quarta, a brasileira Mariana Marins, irmã de Juliana, compartilhou um texto, descreve a relação afetuosa que as duas tinham desde a infância. Ela destacou o companheirismo e a parceria, contando que ensinou a irmã a andar de bicicleta, tocar violão e até influenciou seus gostos musicais.

Mariana relembrou que sempre diziam que “moveriam montanhas uma pela outra” e lamenta, com tristeza, não ter conseguido salvá-la mesmo à distância. “Desculpa não ter sido suficiente, irmã”, escreveu.

Quem pode responder pela morte de Juliana?

Diante da indignação de diversos brasileiros pela morte de Juliana, muitos internautas têm questionado se o Brasil pode responsabilizar a Indonésia pela perda dela. Em entrevista ao Diário do Nordeste, o professor Paulo Henrique Gonçalves Portela, do departamento de Direito Internacional da Universidade de Fortaleza (Unifor), revelou que o assunto é “polêmico”

Isso ocorre pela falta de informações detalhadas sobre o caso. Em sua perspectiva, caso mais detalhes sejam divulgados, o governo da Indonésia poderia ser responsabilizado, mas processo é complexo. 

“Até seria possível processar a Indonésia no Brasil, mas seria um processo muito longo, muito complexo, iria requerer muita cooperação jurídica, envolvimento das autoridades da Indonésia… Seria muito difícil mesmo”, declarou.

Como é o vulcão Rinjani, onde a brasileira caiu

O vulcão Rinjani se eleva 3.726 m (12.224 pés) acima do nível do mar. É o segundo vulcão mais alto da Indonésia, e um dos favoritos dos turistas, pois é uma das principais atrações do Parque Nacional do Monte Rinjani, que compreende uma área preservada de 41 mil hectares. 

O trajeto até o cume do vulcão pode levar até quatro dias e, dentro do monte, a caldeira do vulcão conta com mais de 50 quilômetros quadrados e guarda o lago Segara Anak, uma fonte termal natural. É possível chegar ao local pelas cidades de Senaru e Sembalum.

Compartilhe esta notícia